Passados poucos dias após a conquista do primeiro título mundial de Mick Fanning, a Rip Curl lançou um pequeno vídeo com o seu regresso à Austrália: check-in no Aeroporto ainda no Brasil, palmas à entrada no avião e, finalmente, a celebração caseira, aí já em modo Eugene. O vídeo é suposto ser sobre o Sr. White Lightning, o surfista mais rápido do planeta, mas 30 segundos após o início, este já se tornou um personagem secundário. A acção passa a centrar-se noutro australiano, o último campeão vindo do down-under: Marco Luciano Jay Occhiluppo, que, involuntariamente e perto dos 42 anos, se continua a apropriar do centro da acção. O filme é um pouco o espelho do que foi o circuito deste ano. Fanning dominou de modo quase hegemónico toda a temporada, no entanto, nunca conseguiu ocupar de forma convincente o palco. Falta-lhe carisma. Falta-lhe o que Occy e Slater têm para dar e vender.

A expressão carisma é normalmente usada para nos referirmos a alguém que tem características que o distinguem do homem normal, qualidades magnéticas que atraem a atenção. O sociólogo alemão Max Weber identificou o carisma como uma das fontes de autoridade, que conferia poderes excepcionais, não acessíveis ao comum mortal, a alguns indivíduos. Mas Weber contrariava a natureza divina do carisma. Não se nasce com carisma, o carisma conquista-se. Occy e Slater por caminhos bem distintos conquistaram carisma.
Occy é, ao mesmo tempo, a memória do circuito pré-dream tour e a corporização de uma ressureição inesperada. O ‘raging bull’ está aí para recordar os duelos míticos com Curren em meados dos anos oitenta e para lembrar todos os dias aos surfistas ‘new school’ a importância do surf com a prancha na onda, sem vôos desnecessários. Mas, Occy é, essencialmente, o surfista que após dois abandonos repentinos do circuito – fruto de neuroses, um espiral de álcool e drogas – voltou, recuperando a forma que parecia definitivamente perdida, para se sagrar campeão mundial em 1999. O carisma de Occy é o resultado de um regresso improvável e serve também para mostrar a força superior de quem esteve perto do fim da linha e soube voltar.
Slater, pelo contrário, é o ‘control freak’ que aparenta ter delineado um plano há vinte anos e que, desde então, se tem empenhado em segui-lo à risca. Cada onda surfada, cada comentário no webcast e cada depoimento sobre o que pensa fazer no próximo ano competitivo parecem não apenas fruto de uma reflexão prévia, mas, também, parte de uma narrativa que o floridiano antecipou há duas décadas. Mas Slater é, acima de tudo, o surfista que melhor combina o surf do passado com a capacidade de inovação.
in: blog ondas e duma cena qualqer q eles tb tiraram xD
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